Pensamentos Prensados

sábado, setembro 24, 2016

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #037


Linhas de vigilância 

Estamos sempre correndo com emoções reprimidas (acorrrrrrrrrrentados em om ss es e repetiçõesrepetiçõesrepetiçõesrepetições...)

– Cada ato nosso é dado: é notado e anotado, é registrado conforme as regras e os regimes de costume e conduta, controle e coerção, comoditização e comercialização, comunicação e consumismo, conformismo e combustão.

Quem observa nossas tensões está sempre no centro das desatenções, no seu posto de sentinela, no topo e no panóptico, nos cabos e nas fibras ópticas, na escuta e na censura, no abuso e no absurdo.

(Até onde essa liberdade de bits e bytes pode ser digitada?)

Depois de perpassar pelos pedaços do passado, de resvalar pelos res...tos...íduos...quícios da resistência, passageiros resignados se enredam, se detêm e se comparam em realidades indeterminadas;

Transitamos na teia quase telepática de telas e teclados através das transições do nosso ser: das interações às intransigências, das intromissões às intoxicações, das intolerâncias às trevas, das tragédias às tréguas e, às vezes, dos entorpecimentos às introspecções, das intenções às transformações e das transparências aos entendimentos.

Ao mesmo tempo em que almejamos ser mais vistos e aumentamos o grau da visão alheia, estamos expondo cada vez mais uma existência irreal e enxergando cada vez menos uma essência real.

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #036


Linhas de abatimento

Para onde o horizonte nos orienta?

Norte (vá!) noroeste (desvie!) oeste (pense!) sudoeste (vire!) sul (retorne!) sudeste (continue!) leste (pare!) nordeste (tente!) – são tantas as opções para uma concepção de mudança...

Se algo estancar a hesitação e o cansaço nos quais navegávamos e agora estamos naufragando, alquebrados e soçobrados em agonia salobra, quem sabe então nem sempre seremos estranhos de nós mesmos, quem sabe voltaremos a ser o inverso de nomes extremos, quem sabe nos envolveremos em serenidade e serendipidade constantes e confortantes.

(Aonde vão os rastros de algodão de aviões vagarosos?)

E assim, sem surpresa, já suprimimos du-zen-tos-e-cin-quen-ta dias de mais um ano sem a reviravolta desenhada e desejada; sim, estamos cientes, não queremos mais ter que nos enganar com poucas doçuras profundas e centenas de certezas ocas, mas, enfim, o ato de se revoltar, de tentar se encontrar e escapar dos tentáculos dessas queixas, não está resultando em uma saída saudável como queríamos, não está restaurando um caminho estável para uma vida calma e sábia.

"Nosso limite nos elimina quando nos impede chances para imprevistos quase impossíveis", um velho conselho se desvencilhava, mas não vencia.

E se formos nosso próprio estorvo de tudo, óbice e obstáculo de esforços e propósitos, incapazes de escapar da auto-ilusão e ousar ir além das pedras que nos prendem?

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #035


Linhas de passagem

O tempo é ativo e reativo – é relativo, de modo atento e isento – é o intento?, sendo feito de entrementes – o nó do todo, entremeado de feitos – nós por todos?; ele se entende com a eternidade – senda estelar, ele é serpente de ritmos, relações e ciclos – será o que se espera?

Na fúria contínua do fluxo humano, pontuamos nossos passos com ponteiros impassíveis...

E, quando as sensações nunca desaceleram, o que é visto deixa de ser vivenciado.

Com dezenas de idades para idealizar, detestar e desafiar, o aniversário é aliado ou adversário?

(Apesar de tudo que já foi apertado, dito e transcrito nessas linhas, os dias seguirão os segundos, imitarão os minutos e chorarão as horas de extraordinários anos extintos enquanto não alcançarem novas estações, explosões, exclamações!)

Deveria ser improvável ainda ver flores desabrochando e povoando esse chão de aflições terrenas e ferrenhas (frustrações frutíferas?);

Mas esses perfumes também não precisam ser perfeitos, essas pétalas tampouco precisam ser permanentes, e isso as flores nem querem pedir, seja qual for a extensão do defeito ou do sumiço: elas podem e preferem estar, desaparecendo e reaparecendo, onde houver qualquer redor, sendo apreciadas como são, sem pressa, sem remorso, com princípios sensatos e precisos, como nos primórdios.

segunda-feira, setembro 12, 2016

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #034

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #033


Linhas de diálogo

Contar é o ato de acompanhar a condição humana;

Descrever é a perspectiva de enaltecer detalhes imperceptíveis;

Escutar é a experiência de esculturar a essência do ser.

As letras de cada conversa se levantam, convergem e divergem para miríades de direções e migrações, de verdades e desmentidos, de lendas e conquistas, de legados e aprendizados

– Quando bem tratadas, as palavras se apresentam como bênçãos de orações coordenadas, mas, quando maltratadas, elas nos atrapalham e se tornam ciladas de sílabas desconexas, conturbadas, complexas.

Para quem não erradica falas repletas de erros e farsas, resta apenas e tão somente o pedido permanente de perdão? A pergunta perfura respostas remendadas e nos afunda em dúvidas duradouras.

Impasses impraticáveis: dizer não e desdizer sim, contradizer tudo e sempre, direto e sem parar, a cada frase e fase, texto e pretexto, ideia e indecisão, interação e interrogação...

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #032


Linhas de contemplação

Vales e vilas, volumes de vida... tão vastas são as vistas que suavizam a visão.

O coração vê, revê e reverbera o que os olhos sentem?

Sob pés e percalços, descansam pedras milenares, divindades da Terra que ponderam sobre a quantidade de milagres que poderíamos descerrar, agradecer e engrandecer;

Acima de neurônios e neuroses, brilham bilhões de esferas de hidrogênio, filhas e netas quase-eternas das mães que semearam a infinitude com os elementos básicos da magnitude da vida e das maravilhas do espaço.

Forjada na fornalha da fotossíntese, a força da floresta nos conforta:

Raízes e razões, troncos e encontros, ramos e planos, folhas e escolhas, flores e amores, frutos e futuros...

Um pouco de tudo compõe cada nota do canto natural (as partículas e os sons pulsam e repousam nos compassos da partitura).

domingo, setembro 11, 2016

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #031


Linhas de condensação 

Às vezes, as palavras se revezam no papel com velocidade demasiada, ficando embaralhadas e amassadas, fincando-se em barulho e afinando nada de mansidão. Com a alma longe, como ter calma e se amar longamente? A paz é nômade e fixa: ela sabe que pode ser vista quando passa e onde mora, por onde volta e se demora; no entanto, ela somente se mostra aos olhos que se movem para se comover.

Nas montanhas, os mantras se mantêm:

Retire-se e respire... acenda-se e transpire... enfrente-se e aspire... supere-se e suspire... esvazie-se e inspire... ascenda-se e expire... equilibre-se e compreenda... (re)encontre-se e transcenda...

* Gotas de agosto brotam a contragosto

– Espantados com a tempestade, os cães não se acanham em latir e ganir para se encastelar,

E, no passado encantado que se recreia e comete trapaça na mente, as crianças não choram ou criam crises quando se molham ou se encharcam na chuva; elas riem como nunca, exalando alegrias, cantorias e alegorias.

(Chuva-chuvisco, água-rabisco)