Pensamentos Prensados

segunda-feira, julho 16, 2007

Os doze passos eternos IX (hai-kai)


Santificação

Ontem, distante,
a mulher de julho cantava...
Fim de tarde na sala

segunda-feira, julho 02, 2007

Quando você percebe que cresceu (crônica)


Primeiro aniversário de um dos jogos mais patéticos que já vi.


Pela primeira vez, vi o Brasil sair mais cedo de uma Copa do Mundo. Depois de três finais seguidas, uma despedida apática. Os torcedores se surpreenderam com a eliminação do “melhor time do mundo”. Muitos choraram. Outros se revoltaram. Dor, tristeza, raiva. Emoções que não senti naquela tarde de sábado. Troquei o desespero pelo consolo. Consolo aos amigos, todos da mesma idade. Diferentes reações de uma geração. Um chorava, outro gritava sem parar. Garrafas quebradas, cadeiras chutadas. Em vez de me preocupar com a derrota de um time sem alma, fiquei atento às reações deles. Tudo para evitar acidentes.

Nos dias seguintes, foram inúmeras conversas sobre a seleção e o torneio. Concluímos que foi a pior copa que já vimos. Foi a Copa do Medo. Covardia. Falta de ousadia sob a máscara da prudência. Treinadores e jogadores temiam mais a derrota do que desejavam a vitória. A seleção brasileira foi além. Queríamos um time talentoso e lutador. Nos presentearam com vaidade, conservadorismo e despreparo. O sonho do espetáculo era uma farsa.

Alguns escaparam dos lamentos. Quem percebeu os problemas do time imaginava uma possível eliminação. Durante o jogo fatídico, era uma hipótese que não podia ser ignorada. Não havia como camuflar a realidade. E quando não há ilusão, não existe decepção. Apenas amargura e frieza diante do fracasso.

É engraçado olhar para o passado agora. Quando éramos crianças, o mundo caía quando nosso time ou a seleção perdia um jogo importante. A vida não fazia mais sentido. Como éramos ingênuos. Puros. Crescemos e aprendemos muito sobre as coisas. Você percebe que ser maduro é ficar amargo, cético e frio. Que a realidade é assim. Você cresceu e sabe que os interesses alheios estão acima de tudo. Você cresceu e as despreocupações da infância ficaram para trás.

Talvez passe a vida inteira sendo uma pessoa melancólica. Mas pelo menos será por motivos diferentes. Você irá chorar pelo fracasso pessoal. Irá chorar quando aqueles que estima caírem lutando. Mas nunca mais ficará triste por pessoas que não vão atrás de seus objetivos. Por pessoas que representam uma paixão nacional, mas não se esforçam para se mostrar dignas dela.

A vida é feita de interesses pessoais. Uma criança não imagina o que passa pelos bastidores de uma Copa do Mundo. Para ela, são apenas dois times que jogam pela vitória. Uma criança não sabe que a paixão pelo dinheiro e pela fama às vezes prevalece. Quando cresce, não há escapatória. A alegria do gol pode continuar. A tristeza da eliminação também. Mas a visão muda. Nem mesmo o futebol consegue se manter intacto da realidade. Há sujeira nos bastidores e os jogadores são simples mortais. O futebol passa a ser apenas um jogo. Uma representação das qualidades e dos defeitos humanos.

Daqui a quatro anos haverá uma nova copa. Será uma nova chance para a seleção buscar o título. Qual será a diferença em sua vida se ela ganhar ou perder? Auto-estima, felicidade? Não insista, a realidade está muito além das quatro linhas. Deixe as ilusões para as crianças. Compreenda que a felicidade só depende de você. Guarde as lágrimas para as glórias e os dramas pessoais.