Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #042
Linhas de desencontro
A corrida do rio deve terminar no mar, desembocando da terra de vez, sem voltar atrás;
Nos litros do litoral, quilos de cidades e cotidianos adquiridos nos córregos são lixiviados para nos livrar de insensibilidades e acorrentamentos (mas as pessoas se afogam nos detalhes, afundam-se; em vez de emergirem e nadarem, elas se empurram, elas se puxam, elas se perdem).
Após a despressurização do céu aquático, apostamos na respiração da superfície com entusiasmo novamente! Mas basta o ar renovado para atarmos as linhas de outra jornada, de outra via?
Como atracaremos os sonhos restantes dos barcos deste mar, traços ermos e soltos entre lastros e marés, se eles entardecerem e retornarem cansados e marejados (mais uma vez, pela última vez)?
No porto das pobres promessas que nunca serão cumpridas, quem ainda opta pelo amor-próprio se aparta sem pressa ou clamor, ora para bombordo, ora para estibordo, com o leme apertado e prensado entre as contínuas dores de uma deportação de si mesmo que se aproxima
– E esses azares idealizados zarpam para águas que se azedam.
... Desde quando somos todos predestinados a uma aniquilação anônima?