Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #016

Linhas de ruína

Com esmero, a esperança esmaece e expira:

Outono ou outro tom?

As folhas voltam a farfalhar e a voar, fazendo ecoar falas e falhas, devoções e desencontros, fraquezas e fracassos...

(Quedas queridas?)

Aonde a vaidade vai, a sensatez se entrega,

E só resistimos aos destroços de destinos e desatinos porque ainda existem resquícios que teimam em respirar e ressoar.

"Na apoteose do apodrecimento, poderemos nos desapegar, sem perturbação, das presenças que se apagam?", ela perguntava.

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #015

Linhas de colapso

Tudo que se estrutura em posturas contraditórias não nos segura mais quando as rupturas se encontram...

A euforia é fôlego como o fogo, ela ilumina e ilude, e nos ascende, nos arde e nos queima até tremermos de novo.

Nas recordações, buscamos um combustível que consiga ser bombeado por corações crescidos e quase inertes,

E o que achamos, contudo, são somente cinzas, fumaça e consternação.

Abril abranda as brasas abruptamente;

Depois de sismos e incêndios, o céu que se insinuava orgânico desaba em sintonia com ondas sintéticas.

"Um tremor indiferente nos derruba por fora e uma faísca indecisa nos derrete por dentro", ela desabafava.

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #014

Linhas de alerta

O futuro sem rumo nos ronda como névoa sem extremos, nos amedronta como espectro sem nexo:

Estaremos sempre em estagnação se pensarmos como pessoas completas e perfeitas.

Deveríamos viver com a vontade da nossa verdade e voar sem nos aterrorizar e aterrissar,

Mas como manter as asas leves ante a leviandade que vigia e ameaça as escolhas alheias?

O senso comum circunda e sitia sensibilidades e comandos;

Com notícias enosadas por distintas e distantes noções, o meio é a opinião, a mensagem é o ódio.

"Pedestres perdidos em preces repetidas se repreendem demais e não tentam decolar", ela delineava.

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #013

Linhas de turbulência

As nuvens nunca vêm para ver o que vencemos, elas vêm para velar o que vendemos...

Guarda-dilúvio!

Chove sem parar, sem paciência, como se houvesse uma enorme penitência a ser paga;

Arredio, o rio agora ri com humor muito úmido, revolvendo restos de mudanças bruscas e maiúsculas

– Tão logo transformados, transbordaremos, indo da dormência ao transtorno, inundando ilusões transitórias,

E afundaremos em um fluxo desgarrado e feroz até desaguarmos na foz onde as desgraças se refazem.

"Março marchou e marcou...", ela murmurava.

Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #012

Linhas de regressão

Como atravessar as noites tranquilamente quando tragédias e traumas trafegam pelo travesseiro?

As oferendas para Morfeu não parecem fazer efeito, não fazem parar tempos e defeitos.

(Insônia insolúvel)

Mau humor bem nos quer?

Quase ninguém compreende o cansaço que alcança o inconsciente,

Um cansaço que se impõe ao corpo e decompõe o cotidiano em feixes incolores.

"Sombras ou sonhos? Somos sombras com sonhos, sonhos de luz!", ela sublinhava.