Pensamentos Prensados

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Uma ameaça silenciosa ao reino do vazio (conto-manifesto)


Olhe para todos eles e tente não se irritar. Todos estão sorrindo, não importa qual seja a quantidade de mentiras e bobagens que precisem contar e ouvir. Todos se divertem com as mesmas piadas, repetem idéias vazias, chocam-se por causa das contestações de sempre, espalham intrigas e invejas sem precisar renovar as fofocas, os boatos e os sentimentos vis e mesquinhos.

Não importa o gigantismo da sua inutilidade, eles sempre estão no topo. No mundo das aparências em que vivem, a lógica do sistema é a troca recíproca de elogios falsos. Suas vidas medíocres são retratadas como dramas com finais felizes, quedas e glórias forjadas e superdimensionadas por revistas, canais de televisão e quaisquer outros arautos do lixo humano.

Olhe para todos eles; não são simplesmente pessoas, mas celebridades, que devemos respeitar e admirar mesmo que não tenham feito, espontaneamente e sem interesses maiores, ações relevantes nos lugares onde vivem e transitam.

Suas opiniões, castelos de palavras superficiais, são proferidas como verdades reveladoras e supremas. Seus críticos são pessoas fracassadas, amargas e invejosas, que não entendem o talento natural desses seres que representam o espírito de uma época. Olhe para todas essas celebridades, líderes de um novo tempo: a Era do Desencanto.

Eles querem ser deuses e nos querem como seguidores, querem nos confortar com ilusões em um mundo confuso e caótico enquanto festejam em redomas à prova da realidade. Eles querem brilhar eternamente, mas não passam de estrelas que destruiremos para salvar nossas noites e nossos sonhos. Estamos na escuridão, mas não precisamos de luzes que nos ceguem.