Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #027
Linhas de presença
A memória é isto: é mesmo uma história que é escrita pela eternidade e extinta pela efemeridade, que já acontece na partícula deste instante e se esquece parcialmente adiante, que jamais se move ao que exatamente foi ou remove o que insensatamente não foi.
Nascemos para trazer emoções e saberes novos a um mundo que não se comove mais com facilidade, de tão bruto, ácido e desconfiado;
Crescemos acreditando que os dias são feitos tanto de ação quanto de afeição;
Convencemos nossa vontade a converter o medo (ele nos acossa) em coragem (ela nos invade) para alçar o maior dos voos e alcançar a mais amorosa das vozes;
E vencemos qualquer acontecimento adverso em defesa do que queremos – a proeza de sermos adolescentes eternos, jovens faceiros em poder fazer um caminho empoderado e ponderado, de aconchego, carinho e sossego.
(Lentas e brandas lembranças de um tempo que, de tão leve, balançava e levitava e então se levava pelo vento...)
Foi em uma quinta-feira, nunca desfeita, que o mundo desmanchou a última das esperanças contidas e apenas deixou (como ultimato ou herança?) essa mudança que, de fato, não se para de modo algum para alguém agora separado e sem rumo: o desespero para quem ficou desse lado, respirando mudo, petrificado e paralisado diante do fim tão injusto e imperfeito de tudo.