* Os semestres vêm e vão sem levar embora velhos hábitos.
O cotidiano de estudante universitário deveria começar uma hora antes da primeira aula da manhã. Mas não há despertador no mundo que evite a necessidade de ficar mais cinco minutos na cama. Como o estudante tem uma visão de tempo muito mais original que Einstein, esses cinco minutos acabam virando meia hora.
Frescuras são dispensáveis na hora de se preparar para sair. Em vez de um café da manhã reforçado, algumas bolachas quebram o galho. E só escovamos os dentes para não espantar as pessoas com o mau hálito. Pobre fio dental!, que cria teias no armário do banheiro. A escolha da roupa é totalmente intuitiva, sem maiores reflexões estéticas – é provável que você já tenha visto hoje alguém com camisa amarela, calça cinza e tênis vermelho. E para que perder tempo arrumando o cabelo? Deixe-o caótico. As pessoas provavelmente acharão você um cara cool, rebelde e desleixado, que se recusa a aceitar os padrões impostos por uma sociedade padronizada.
O estudante é um sujeito saudável, que gosta de praticar esportes. Só correndo mesmo para chegar à aula a tempo de dizer o nome na chamada. Quando falhamos nesta missão, somos obrigados a desenvolver nossas habilidades diplomáticas. Trabalhe com a desculpa “Professor, fui dormir tarde porque estou com problemas pessoais” ou “Passei mal ontem, nunca me senti tão fraco na minha vida”. Sempre funciona.
As aulas são excelentes para pensar na vida e vivenciá-la de fato. O estudante faz reflexões, ou seja, dorme em uma carteira desconfortável. O estudante também aprecia a paisagem. Afinal, não dá para ignorar a beleza da loirinha da primeira carteira. A sala de aula também serve para botar a leitura em dia e criar novas amizades. Nunca tenha vergonha em pedir emprestado o caderno de esportes.
A compaixão é uma de nossas características mais louváveis. Para prolongar a vida útil do fogão, deixamos de almoçar no conforto do lar para comer calzone em alguma praça de alimentação gélida e desumana. E corremos o risco de mancharmos a roupa com gordura! Também pensamos no futuro da economia local. O que seria dos restaurantes sem a gente?
Outra coisa a destacar é o nosso amor pela universidade. Passamos o dia inteiro nela, ao contrário de professores e funcionários. Somos os primeiros a chegar e os últimos a sair. Tudo isso porque estamos sempre preocupados com a vida. Com a vida dos outros, é claro. Nosso esforço em compreender as pessoas é impressionante. Podemos dedicar várias horas a essa missão importante. Fazemos até horas extras nos bares.
No entanto, engana-se quem acredita que somos pessoas totalmente alienadas e imediatistas, que pensam apenas em se divertir. Muito pelo contrário. O estudante é um sujeito organizado. Ele começa a segunda-feira já planejando o que vai fazer no fim de semana. Festa ou churrasco? Futebol ou praia? Cerveja ou vodka? Não é fácil viver com tantos dilemas.
Também somos pessoas sensatas. Por que fazer hoje o trabalho que podemos entregar daqui a duas semanas? Por que perder tempo estudando para uma prova todos os dias se é mais fácil virar uma noite fazendo isso? Por que prestar atenção na aula quando estamos de mal com a vida? Por que dormir cedo quando podemos ver um filme, ficar usando a internet ou sair para beber? Por que ler física quântica e economia clássica quando podemos ler e-mails e recados no orkut?
Nosso único compromisso é viver sem compromissos. Até que a vida adulta nos separe. Somos banais, mas pelo menos nos divertimos um pouco.