Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #053
Um conto sobre os contrastes do ano (de tantos tons humanos) - Semana #052
Linhas de amor
Que sentimento é esse que encanta até os seres mais distantes das nossas percepções, os espectros presentes em todas as ações?
Que sentimento é esse que, mesmo sozinho, já semeia os sonhos mais memoráveis de um menino?
Que sentimento é esse que nos apresenta a proeza de semblantes com prosa, poesia e romance?
Que sentimento é esse que sedimenta a promessa de uma sorte, seja qual for, sempre mais forte do que a imposição da morte?
Que sentimento é esse que, na ausência da contraparte do ser, deixa uma seiva atroz se encravar na nossa cavidade torácica, obscurecendo átrios e ventrículos violeta e violentamente, incrustando veias e artérias com a mais crua, ácida e corrosiva passividade, acurando o corpo com a arte das impossibilidades?
Que sentimento é esse que, sempre tão intenso, resplandece ossos, carne e pele polidos pelas reflexões e refrações do espírito, nos (re)aproximando da fração perfeita do que nos torna humanos fraternalmente aceitos, até o momento em que morremos para nós mesmos e mostramos quão paranormais são nossos monstros?
No entanto, ainda que caído, calado e enferrujado por erros de ergonomia, o órgão que organiza esse sentimento de centenas de centelhas e sensações não se dissipa depressa e assim se mantém valente e atento ao que acontece com a esperança escassa de cada caco colado e recolocado pelo estranho espectro de vidro que é a vida readquirida e reativada.