Pensamentos Prensados

domingo, junho 29, 2014

Divagações e direções


Os pássaros cantam para quem?

Quem repara na pequena mudança da paisagem?

Da paisagem, haverá fotos excessivas até quando?

Até quando a vida seguirá confusa e arredia, sem momentos de entrega?

Momentos de entrega só dependem de uma pessoa?

Uma pessoa tem dificuldades de ser feliz por conta própria por quê?

Por que não conseguimos tudo que desejamos e a maioria dessas conquistas se perde mais cedo ou mais tarde?

Mais cedo ou mais tarde, as coisas se resolverão como?

Como seguir adiante se o caminho traçado se divide em inúmeras bifurcações?

Em inúmeras bifurcações, haverá uma que nos unirá?

Nos unirá de que maneira e por quanto tempo?

Por quanto tempo é possível ter ânimo para encontrar as respostas?

As respostas darão vida a outras perguntas?

Outras perguntas trarão, enfim, paz e equilíbrio?

Paz e equilíbrio vêm mais rápido com a meditação ou com a escrita?

A escrita, tão íntima, não deveria ser escondida a sete chaves?

Sete chaves abririam todos os segredos dos corações guardados?

Os corações guardados batem em ritmos constantes?

Ritmos constantes autênticos são breves ou longos?

Breves ou longos, os melhores cantos sempre serão os pássaros?

Os pássaros cantam para nós?

Nós realmente buscamos o que queremos?

O que queremos está mais perto do que alguns segundos ou mais longe do que uma frase?

sábado, junho 28, 2014

Pelas ruas à noite (hai-kai)


Na volta para o lar,
nada se via da via
mais importante

quarta-feira, junho 25, 2014

Céus diferentes (hai-kai)


Do grito ao sussurro,
vozes complexas e simples:
o beijo é a tradução

sábado, junho 21, 2014

Outro ano (crônica)


Esse mundo sob ti muda completamente quando chegas com um brilho tão intenso, como se reverberasses tudo que pulsa. Até o que deveria estar morto renasce e explode com teu olhar azul-profundo.

Tu crias um universo magnífico de euforias, com tudo sob controle, ao teu comando. O calor convidativo, a luz transcendental, as nuvens esquivas. Por ti, esquecemos os sonhos de verão e reverenciamos teus dias e tuas noites.

Passamos a querer acordar diante do sol que faz o presente se paralisar para caminharmos em manhãs frescas, colhendo os melhores gostos para nossas mentes. Queremos rir em tardes amareladas como fotografias marcantes e vê-las partir em vestes douradas, vermelhas, alaranjadas, rosas e lilases.

Queremos correr contra o vento em noites que não nos esfriam para nos expor ao imprevisto, ao improvável, ao impossível, e repousar após madrugadas memoráveis, em um sono que renova tudo o que somos.

E, quando o dia seguinte chegar, queremos enganar o tempo para lembrarmos tudo exatamente do que jeito que foi. Cada intenção, cada ato, cada reação, cada brilho.

Teus encantos são a única coisa de que precisamos novamente e tentamos encontrar uma fórmula para mantê-los indefinidamente. Teu sabor de glória e eternidade vira um desejo, um mantra, uma obsessão. Tu nos fazes flutuar mais e mais alto e nunca nos cansamos de rir de surpresa ao admirar os locais onde a vida se revelou para nós.

Entretanto, cedo ou tarde, essa energia se dissipa e as emoções secam e quebram-se diante da dureza de palavras repentinas, confusas, sem desejo por algo maior do que momentos efêmeros. Tudo fica indefinido: teu olhar continua azul-profundo, mas não aquece mais com o mesmo vigor, e, às vezes, esconde-se e chora por qualquer motivo.

O que vimos começa a se distanciar; o que ouvimos, a se calar; o que sentimos, a se perder. Só restarão imagens a serem borradas pelo tempo, conversas misturadas pelas memórias, dúvidas alimentadas pela nostalgia.

Em poucos dias, poucas semanas, o que valia uma vida inteira se restringe a ser um ponto fora da curva da rotina e da repetição. Olhamos para ti, em suplícios calados, mas o que te resta desaba e nos oprime.

Então tentamos te ignorar e evitar olhares enquanto morres, pálido, cinzento, sombrio, até a despedida constrita, antecipada, golpeada por uma nova frente de sensações, agora gélidas e fantasmagóricas.

Seria o fim completo do teu ciclo bendito e maldito, mas encontras refúgios em situações insólitas e irracionais. És o encontro casual e a conversa desajeitada; o melancólico aniversário de breves meses; a coincidência de nomes e lugares reunidos em momentos aleatórios; um número teimoso, uma letra ora reta, ora curva; um vento que derruba folhas fora de época.

Em algum ponto, um outro ano ainda percorre seu curso, com março cálido, abril ruidoso, maio transformador e junho indiferente. Esse mundo sob ti muda completamente com teus tons, céu de outono.

sexta-feira, junho 20, 2014

Um quasar (hai-kai)


No ponto de luz de maio,
energia maior do que
bilhões de estrelas

quinta-feira, junho 19, 2014

J., S., E., A. - parte final (personagens fictícios)


9.

From a scream to a whisper
The Earth sings mi, fa, mi
__

Leia e ouça também:

J.: partes I e II;

S.: partes I e II;

E.: partes I e II;

A.: partes I e II.

quarta-feira, junho 18, 2014

Fúria viajante (hai-kai)


Em três noites e dias,
o vento do fim do mundo sopra
a tormenta no céu do sul

domingo, junho 15, 2014

Tempestade no Cambirela (hai-kai)


Na baía, nuvens
vermelhas e elétricas:
a montanha é um clarão

A. - parte II (personagem fictício)

sábado, junho 14, 2014

Hipótese real (hai-kai)


Quanto mais um sonho
vai e retorna, mais pode
ter existido

domingo, junho 08, 2014

Fim de semana sem começo (hai-kai)


Dia chuvoso,
cinzento, "chuvento" – com
preguiça de tudo

E. - parte II (personagem fictício)

sábado, junho 07, 2014

Golpe de estação (hai-kai)


Após o temporal,
inverno antes da hora
– outono posto

quinta-feira, junho 05, 2014

Sem sintonia? (hai-kai)


Da varanda, o cão vê
o gato pulando o muro
Breve contato!

terça-feira, junho 03, 2014

Fusão (hai-kai)


Eternidade
sem luz: os toques indicam
o caminho de casa

segunda-feira, junho 02, 2014

Conta-gotas


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uma gota
suspensa pela folha contempladora

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|        º
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cinco gotas
esparramadas pela janela molhada

zzzzzzzzzz

º
zzzzzzzzz

ºº
zzzzzzzz

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zzzzzzz

ºººº
zzzzzz

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zzzzz

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zzzz

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zzz

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zz

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z

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dez gotas
odiadas pelo sono interrompido

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    º        º          º         º        º
    y       y         y         y        y

cinquenta gotas
desejadas pelas flores abandonadas

(                     )
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cem gotas
libertadas pela nuvem solitária

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incontáveis gotas
engolidas pelo oceano silencioso