Os doze passos eternos (hai-kai)
Os versos dos doze passos reunidos, alguns com pequenas alterações. Mês que vem virá um texto novo, para que o blog não continue só com hai-kais.
A maldição provocada pelo coração inocente transformou a recordação em um ritual onipresente e implacável.
Na fila da redenção, só ecoava o réquiem das chances perdidas.
A longa Via Crucis fez parte da procissão que a vida observa por segundos antes de ignorá-la e entregá-la ao destino.
Após a beleza e a efemeridade de uma epifania, o sonho virou ceticismo.
A alma desorientada balançou entre o limbo, mais temível do que a morte, e a eternidade, mais temível do que a vida.
Entre erros e acertos, a santificação de momentos nostálgicos serviu como refúgio enquanto não se encontrava a paz.
Longe das conversas vazias, a meditação ouviu a única voz realmente necessária para compreender que o sacrifício era a melhor maneira de escapar das ilusões.
O passado desapareceu diante do sorriso da fortuna.
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O sol, a chance, o erro...
Ao ver novembro, o menino
foi, perdeu e chorou
As cigarras cantam
que o fim é sempre amargo
Dezembro reflui
O vento arrancou
teu girassol em janeiro,
poeta dos hai-kais
A cidade dança:
fevereiro espreme
o bloco da saudade
Sob as folhas secas,
março recolhe as cinzas
das esperanças vãs...
Os acordes fluem...
Do topo do céu azul de abril,
flutua uma canção
O tédio (e a bebida):
maio sob a noite branca
da inexistência
Olhos despertos!
Frio junho matinal
na névoa sem mundo
Ontem, distante,
a mulher de julho cantava...
Fim de tarde na sala
Olhos de agosto:
o menino se observa
e tenta refletir
Chuva de setembro:
flores pisoteadas
por passos vagos
Anjo de outubro
Um tempo para o coração
Sempre contigo