Pensamentos Prensados

domingo, abril 22, 2007

Entre sonhos e pesadelos (gaveta I)


Esse texto foi escrito há mais de dois anos e faz parte de um projeto megalomaníaco, que está momentaneamente parado.


Sono. Ler alguma coisa aquela hora era impossível; pálpebras pesadas, bocejos incessantes. Sentado diante de sua escrivaninha, Danican lutava contra todos os sintomas de mais um dia cansativo. Sua cabeça não parava de balançar; os sentidos falhavam e a mente não conseguia mais captar as informações do livro que tinha em suas mãos. “Poças de Chuva no Deserto”, o mais recente best-seller, elogiado pela crítica, sucesso de vendas. Sono. Por melhor que fosse, não conseguiu manter o jovem atento. Era uma tarefa épica, era impossível enfrentar o sono. Danican pôs o marcador de páginas e fechou o livro. Em meio a um festival de bocejos, tirou sua camisa, ligou o aparelho de som e jogou-se na cama. Tal era a preguiça que mal tinha vontade de ir ao banheiro. Faria isso daqui a pouco.

Deitado de lado, observava o seu quarto. Roupas sobre a mesa, revistas no criado-mudo, o caos por todos os lados. Talvez arrumasse isso no dia seguinte, afinal hoje já era uma batalha perdida. A viagem o deixara cansado; quatro, não, cinco horas de viagem até a casa de sua mãe, ao conforto de dois meses de férias. Universidade só no ano que vem...vida só no ano que vem. Sua cabeça afundava no travesseiro, seus olhos, no quarto onde passou boa parte de sua vida. Sono. Tantas lembranças...sua música favorita começou a tocar...mais lembranças...preciso ir ao banheiro antes de dormir...Nastya...

Nastya! E Danican despertou. Suava. O verão ia ser forte naquele ano, pensou. Sentou-se na cama e olhou para a tela do aparelho de som. O cd já chegara ao fim. Dormiu pelo menos por uma hora. A cabeça doía um pouco, como estivesse pedindo para ser desligada; ela zumbia sem parar. Pior era sensação que tinha na boca, cujos dentes não escovara. Era horrível, pareciam estar num processo irreversível de apodrecimento. Acariciou o cabelo e ajeitou por um tempo a franja empapada, procurando ações e pensamentos numa mente recém-saída da dormência, arremessada contra novas sombras. Ruídos de carros trouxeram a consciência, a concentração necessária para tudo, menos para voltar a dormir. O banheiro. Os dentes. Ao menos nos cinco próximos minutos ele sabia o que devia fazer.