Pensamentos Prensados

sexta-feira, maio 02, 2014

Ode aos desajustados


O belo não clama por atenção,
mas todos o admiram

O excluído mostra o rosto,
mas ninguém o compreende

O desajeitado treme no cumprimento,
mas ninguém o equilibra

O tímido hesita com as palavras,
mas ninguém o estimula

O melancólico remói o passado,
mas ninguém o resgata

O solitário quer o presente,
mas ninguém o beija

O ansioso teme o futuro,
mas ninguém o acalma

O amargo reclama de tudo,
mas ninguém o recupera com sorrisos

O arrependido lamenta as escolhas,
mas ninguém o incentiva a tentar de novo

O pecador pede desculpas,
mas ninguém o perdoa

O revoltado se indigna com injustiças,
mas ninguém o percebe

O bêbado tropeça em erros,
mas ninguém o levanta

O louco grita de dor,
mas ninguém o abraça

O desesperado chama por ajuda,
mas ninguém o socorre

O depressivo chora pela vida,
mas ninguém o suporta

O moribundo sonha com a cura,
mas ninguém o acalenta

O cansado se senta na calçada,
mas ninguém o reanima

O soturno enfrenta as trevas,
mas ninguém o ilumina

O quieto medita sobre o mundo,
mas ninguém o questiona

O artista muda paisagens,
mas ninguém o observa

O escritor destila impressões,
mas ninguém o lê

O poeta declama sensibilidades,
mas ninguém o absorve

O travado deseja a dança,
mas ninguém o ouve

O esquisito busca o próprio lugar,
mas ninguém o orienta

O indeciso desabafa dúvidas,
mas ninguém o analisa

O inquieto quebra o espelho,
mas ninguém o imita

O perfil luta para ser humano,
mas ninguém o curte

O belo recebe todas as atenções,
mas a verdadeira beleza pertence aos desajustados